Sangue do Cordão Umbilical

Banco de cordão umbilical: Brasil busca auto-suficiência
Garantia da qualidade do sangue armazenado é a principal preocupação de especialistas.
Por Karla Bernardo Montenegro
Cerca de doze mil partos por mês e quatro mil novos pacientes com indicação para transplante de medula óssea por ano. Estes números parecem não ter relação, mas tudo faz sentido quando o objetivo é acabar com a atual dependência do sangue vindo do exterior para a realização destes transplantes. A solução está na busca da auto-suficiência em estocagem de sangue de cordão umbilical, extraído na hora do parto, importante fonte para transplante de medula óssea. A união da tecnologia, da pesquisa e do treinamento para a excelência na coleta e congelamento vai resultar, em um futuro próximo, na ampliação do banco público brasileiro e na eliminação do drama dos pacientes que diariamente morrem na fila esperando por sangue compatível para transplante.
A formação de bancos públicos de cordão umbilical é uma tendência mundial para aumentar a rapidez na localização de doadores compatíveis dentro de uma mesma população. Problemas de ordem ética, biossegurança e propaganda apelativa estão fazendo com que a rede privada de bancos de cordão umbilical em todo o mundo gradativamente perca a força e a credibilidade dentro da comunidade científica. 
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer, (INCa) no Rio de Janeiro, dará um salto tecnológico em direção a auto-suficiência na estocagem de sangue de cordão umbilical. Através da obtenção de recursos não-reembolsáveis no valor de R$4,09 milhões, com o BNDES, a capacidade de congelamento vai aumentar de três mil para 10.340 bolsas. O INCa, que faz parte da rede Brasilcord, será o centro de referência brasileiro em 2008 já que reunirá tecnologia em armazenamento, equipes treinadas, pesquisadores, laboratórios com ampla capacidade de processamento e atendimento com mais eficiência e rapidez, além de  suprir, sozinho, um terço da demanda brasileira.
Tecnologia de ponta no tanque com o sistema Bioarquivo
Segundo o médico e diretor do Centro de Medula Óssea do INCa, Luiz Bouzas, o plano de inovação tecnológica programado para o instituto prevê o uso do sistema automatizado Bioarquivo, tecnologia nunca antes implantada no país. "É um sistema via computador, que oferece segurança total no armazenamento pela sua característica: o tanque de congelamento possui um braço que elimina a necessidade da abertura da tampa para retirar o sangue congelado. Desta forma, não há perda de nitrogênio e evita-se a exposição das unidades à temperatura do ambiente", explica.

Estado da arte: Técnica do duplo transplante é promissora

O médico Luiz Bouzas, do INCa "Será preciso no Brasil 40 mil unidades congeladas para atingirmos a auto-suficiência"
Para Bouzas, dentro das recentes pesquisas envolvendo a aplicação de células-tronco de cordão umbilical, o que mais o tem chamado atenção são os estudos envolvendo a técnica do duplo transplante de cordão umbilical “Este método permite a obtenção de grande quantidade de células, suficiente para transplantar um adulto com qualidade. Trata-se da identificação e junção de dois cordões diferentes, com celularidade intermediária para fazer o transplante. É um pool de células”, afirma. Para Bouzas, o interessante é que mesmo fornecendo ao paciente células de cordões diferentes, apenas um tipo prevalecerá “Esta é uma boa característica. Quando o paciente começa a apresentar melhora, é porque as células do sangue estão voltando ao normal. Nesta etapa, o sangue é examinado e os pesquisadores encontram, apenas,  um tipo de célula. Uma linhagem desaparece. Ela funciona somente como estímulo para que a outra se desenvolva. O resultado é que a recuperação é acelerada e a partir do décimo quinto dia, o paciente já está fora de risco, diminuindo em 50% o tempo de vulnerabilidade”, destaca.
Além de representar um avanço no uso das células-tronco de cordão umbilical, esta técnica poderá resolver um antigo questionamento: Como utilizar o sangue congelado para um adulto com mais de 40kg, já que uma bolsa, com cerca de 100ml, que é a média colhida, não é suficiente? Segundo Bouzas, “Os bancos públicos estão treinando equipes especializadas. Estas pessoas sabem a importância de se colher  grande quantidade de células, para assegurar a qualidade do material que estará congelando. Outra alternativa, ainda em fase experimental, é a  expansão das células colhidas, fazendo-as crescer em cultura.”, afirmou.

Garantia da qualidade do sangue congelado preocupa especialistas

Marlene Braz, do IFF "A falta de informação das famílias e a propaganda enganosa precisam ser combatidas"
A qualidade do sangue congelado é a grande preocupação de especialistas. Para a médica e pesquisadora em Bioética da Pós graduação em saúde da criança e da mulher do Instituto Fernandes Figueira (IFF) e diretora executiva da Sociedade de Bioética do Rio de Janeiro, Marlene Braz, muitas famílias optam por contratar uma empresa privada para colher o sangue do cordão umbilical já que acreditam que desta forma estão fazendo um seguro de vida para a criança e para toda a família "A falta de informação preocupa. Será que estas famílias sabem a quantidade mínima que deve ser colhida para garantir que o sangue congelado tenha uma boa celularidade?, pergunta. Outra questão levantada por Marlene é a possibilidade de uso do material congelado por outros membros da família "A maioria dos bancos particulares associam, através da propaganda divulgada em seus sites na internet, estocagem privada a estocagem familiar. Será que as famílias sabem que é proibida a doação para parentes? O uso deste material só pode ser autólogo (de uma pessoa para ela mesma), questiona. 
Segundo Luiz Bouzas, "A experiência científica que se tem hoje com células-tronco de cordão umbilical é alogênica, uma pessoa recebe o sangue de uma outra. É a experiência mundial. A pessoa guardar o sangue para si próprio raramente é útil (uso autólogo). A probabilidade de uma pessoa precisar das próprias células durante seus primeiros 20 anos é de 1 para 20 mil, pois uma das principais aplicações é no tratamento da leucemia", explica.
Mas, como saber se o sangue colhido foi suficiente, se ele foi transportado adequadamente e criopreservado (congelado) nos padrões corretos? Para Bouzas, "O banco público, que se propõe a fornecer célula-tronco de cordão umbilical para qualquer brasileiro tem que ter a segurança muito próxima de 100%", afirma. "Para garantir a qualidade existem critérios: selecionamos a doadora, acompanhamos a gestante no pré natal não só clinicamente, mas também com exames, e depois acompanhamos a gestante e o recém-nascido dois a seis meses após a doação. Por mais que se façam testes para evitar a transmissão de doenças infecciosas e genéticas, ainda existe muita controvérsia com relação a janela imunológica no que diz respeito ao HIV e a hepatite. Tem que cercar de todos os lados”, argumenta.
O procedimento não é barato: Segundo Bouzas ” São muitos exames, tanto no recém-nascido, quanto na gestante. Tem o HLA, que é o estudo das características do cordão, depois o processamento, e finalmente o armazenamento por um longo tempo...Cada etapa tem o seu custo. Se o material for mau colhido (pouca quantidade), estiver coagulado ou  contaminado, o dinheiro foi jogado fora”, afirma, o que concorda Marlene Braz “ Não há nada de errado em uma família optar por armazenar as células-tronco de cordão em bancos particulares. A pessoa não é obrigada sob o ponto de vista moral a doar o cordão umbilical para um banco que vai servir a todos (público). O problema é como garantir a qualidade e a utilidade do material colhido por estes bancos particulares, “, alerta.
Luiz Bouzas chama atenção para um problema ainda sem solução: "Nós somos a unidade de transplante e recebemos sangue de bancos privados. Quem vai garantir que o material que nós recebemos é de qualidade? Que foi armazenado nas condições corretas? Que foi transportado até aqui em condições adequadas? Quem vai garantir que existem células, que ela não estão mortas? Não estão contaminadas?Os controles têm que ser rigorosos.", reafirma.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão responsável pela fiscalização sanitária vai divulgar uma nota técnica em repúdio à propaganda apelativa. Segundo Renata Miranda Parca, da ANVISA, "Algumas clínicas particulares prometem o que não podem cumprir. É nosso papel alertar a população", afirmou Parka no evento "Células-tronco: Possibilidades, riscos e limites no campo das terapias no Brasil", realizado pelo Projeto Ghente em maio de 2006.
Perguntas e respostas com Dr. Luiz Fernando Bouzas, do INCa Clique Aqui
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