Transtorno de Pânico (ou Síndrome do Pânico)

O Transtorno de Pânico – como os médicos chamam hoje a Síndrome do Pânico – é caracterizado por ataques de pânico recorrentes e inesperados, acompanhados do medo de ter uma nova crise. A pessoa passa a evitar exercícios físicos, situações desconhecidas ou locais onde tenha sofrido uma crise de pânico.



O ataque de pânico é um período inconfundível de medo intenso ou desconforto intenso, onde ocorrem quatro ou mais dos seguintes sintomas:
Primeira crise



O primeiro acesso (crise, ataque) de pânico costuma levar as pessoas direto para o pronto-socorro. Sem saber que estão sofrendo de um problema psíquico e emocional, tudo o que elas conseguem pensar é que estão tendo um ataque do coração, que vão desmaiar, morrer ou que estão enlouquecendo.
O ataque costuma atingir seu ápice em 10 a 15 minutos, começa a melhorar em meia hora e, geralmente, se dissipa por completo em uma hora e meia.
Depois de dispensadas no pronto-socorro, não é raro que façam uma peregrinação em consultórios de cardiologistas, pneumologistas, otorrinolaringologistas e neurologistas, e se submetam a uma bateria de exames que as viram do avesso, sem encontrar nada de anormal.
Os sintomas físicos vivenciados na crise de pânico são tão semelhantes aos de um ataque cardíaco que o protocolo de atendimento no serviço de urgência dos hospitais é idêntico para pacientes com sinais dos dois problemas. Ambos têm prioridade na fila de espera e são submetidos a eletrocardiograma e exames de enzima cardíacas. Só depois que o resultado dos testes descarta a hipótese de problemas no coração, levanta-se a possibilidade da crise de ansiedade (apesar das semelhanças nos sintomas, é bom esclarecer que ninguém morre ou tem sequelas físicas em função de um ataque de pânico).
Como essas crises vêm “do nada” – na maioria das vezes elas não acontecem no meio de uma briga ou num momento de tensão explícita -, é difícil para as pessoas se convencerem de que estão padecendo de um problema de ordem emocional, e não de um mal físico. Graças a essa imprevisibilidade, elas também desenvolvem o chamado “medo do medo”, que é uma angústia constante provocada pelo receio de ter uma nova crise, sem que se possa prever.



As pessoas que sofrem de TP não costumam relacionar algum fato ou motivo óbvio que justifique a ocorrência dos primeiros ataques. No entanto, pela prática clínica é possível constatar que, na grande maioria dos casos, existe uma ligação com os eventos da vida dessas pessoas, responsáveis pelo desencadeamento das primeiras crises. Em uma investigação mais profunda, pode-se observar que esses eventos ocorreram entre seis e 18 meses antes.
Em geral, as pessoas com pânico ignoram totalmente essa ligação retrógrada, mas a conexão existe. Os pacientes, em sua maioria, respondem “não” quando questionados sobre a existência de algum acontecimento significativo em suas vidas na ocasião da primeira crise. No entanto, conforme vão descrevendo os meses anteriores ao primeiro ataque, acabam revelando os mais diversos tipos de eventos: ruptura de casamento, cirurgia de emergência, um grave acidente, a morte de um ente querido.
Acontecimentos traumáticos são suportados pelo organismo por um determinado período de tempo, e esse tempo varia de pessoa para pessoa. Porém, existe um momento em que esse frágil equilíbrio é quebrado, e a “reação do medo”, acionada pelo organismo, passa a ser disparada sem qualquer motivo imediato – são os ataques de pânico.
Diagnóstico do “nada”
Infelizmente, o portador de Transtorno do Pânico (TP) pode levar muito tempo até receber o diagnóstico correto e o tratamento adequado. A grande maioria, ao correrem para um pronto-socorro, recebem o diagnóstico do “nada”, que costuma ser acompanhado de comentários do tipo: “Você está ótimo, precisa apenas relaxar um pouco“.
Quem tem pânico, sabe que o tal “nada” pode ser responsável por muito sofrimento, tirando do indivíduo toda a sua capacidade de sonhar, de fazer planos e viver plenamente.
A medicina não conta ainda com métodos que possam diagnosticar alguém com pânico, mas isso não significa que não haja “nada”. Na verdade, isso demonstra a grande dificuldade que muitos profissionais de saúde têm de exercer a empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro) na relação médico-paciente.



Monitoração constante
As primeiras crises de pânico deixam a pessoa tão assustada que, dali em diante, ela tende a ficar vigiando qualquer sensação diferente que surge em seu próprio corpo. “Se ela sente o coração fazer ‘tumtum’, quando ele geralmente faz ‘tum tum tum’, já pensa: ‘O que será que está acontecendo?’. O próprio estado de alerta em que ela se coloca nesse momento faz o organismo mudar. O coração começa a acelerar, por conta disso ela sua mais, por conta disso ela fica tonta e a vista escurece. Um sintoma vai desencadeando o outro e vem a crise, que acaba sendo uma reação orgânica a uma interpretação que a pessoa fez”, explica a psicóloga Claudia Gracindo, presidente da Associação dos Portadores de Transtornos de Ansiedade (Aporta).
É bastante comum observar pessoas com transtorno do pânico monitorando a frequência cardíaca, com os dedos nos pulsos ou no pescoço. Muitos pacientes contam que sentem o coração acelerar, bater descompassadamente, e até parar por alguns segundos.
É uma característica da personalidade dessas pessoas a necessidade de controlar tudo – inclusive o corpo.
Pensamentos mais comuns de uma pessoa com Transtorno de Pânico:
  • Vou ter um ataque cardíaco.
  • Vou ficar louco.
  • Vou morrer.
  • Vou ter um derrame.
  • Vão me achar um fraco.
  • Vou desmaiar e vão rir de mim.
  • Não posso ficar sozinho, preciso de alguém para me socorrer.
  • Não consigo controlar minha vida.
  • Preciso ser capaz de controlar tudo.
  • Não posso dirigir, vou perder o controle do carro e bater (ou passar mal). 
  • Não posso fazer sexo, senão posso enfartar.
  • Se eu não dormir, posso enlouquecer ou ter uma síncope (colapso nervoso).
  • Não posso me emocionar nem chorar, senão perco totalmente o controle das minhas emoções.
Alguns pensamentos ocorrem com tanta frequência entre as pessoas com pânico que praticamente são unânimes ou universais. Entre eles, três merecem destaque, por responderem por grande parte do sofrimento desses pacientes: o medo da morte, de enlouquecer e de perder o controle sobre seus atos, coisas e pessoas.
Cura/Tratamento



As causas de cada transtorno mental ainda não foram descobertas, assim como a cura.
Os tratamentos disponíveis, embora efetivos, nem sempre são capazes de reverter o problema ou impedir seu desenvolvimento, mas, na maior parte das vezes, aliviam os sintomas (o sofrimento) e permitem que as pessoas levem suas vidas com qualidade.
A combinação de remédios e psicoterapia, em especial a abordagem TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), que tem apresentado os melhores resultados no tratamento dos transtornos de ansiedade. O uso da medicação pode ser essencial, e esta avaliação deve ser feita somente por um profissional especializado – no caso, um psiquiatra ou um psicólogo.
Quem sofre de transtorno mental só vai se beneficiar dessa ajuda se aceitar e seguir um tratamento apropriado. Para isso, ele talvez precise superar qualquer receio de falar sobre seu problema. O tratamento pode incluir conversas com profissionais de saúde mental que poderão ajudá-lo a entender melhor sua doença, a resolver problemas do dia a dia e a reforçar a necessidade de não interromper o tratamento. Nessas consultas, um membro da família ou um amigo pode ter um papel vital em dar o apoio necessário.
É bom lembrar que muitos pacientes não conseguem sair de casa sozinhos.



Felizmente, nos últimos anos tivemos boas e animadoras notícias em relação ao tratamento dos transtornos de ansiedade, e hoje dispomos de um leque de possibilidades medicamentosas, que prometem causar bem menos efeitos colaterais. De mais a mais, o progresso ocorrido no campo das terapias psicológicas de apoio foi significativo.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) provou ser capaz de mudar os esquemas de pensamento que aprisionam os pacientes aos seus próprios medos, além de alterar o seu comportamento (atitudes) diante dos fatores de ansiedade que desencadeiam.
Em relação às novas medicações, algo curioso aconteceu: a constatação da frequente associação entre ansiedade e depressão fez com que os pesquisadores estudassem o uso de substâncias originalmente utilizadas como antidepressivos também para os casos de transtornos de ansiedade. A boa surpresa foi que algumas dessas substâncias se mostraram realmente eficazes em determinadas formas de ansiedade patológica.
Atualmente podemos afirmar que em 80% dos casos de transtornos de ansiedade é possível melhorar muito a qualidade de vida dos pacientes. Após a conquista desse bem-estar, é muito importante que o paciente prossiga em sua terapia de manutenção, pois essa prática é bastante eficaz na prevenção de recaídas, que podem vir a ocorrer.
Duração do tratamento
As doenças da mente, depois que surgem, tendem a se cronificar. Algumas melhoram com a idade, outras vivem altos e baixos, e há aquelas que evoluem progressivamente, limitando, pouco a pouco, a vida do indivíduo. Por isso, não há como um médico prever ou mesmo definir a duração de um tratamento.



Tanto os médicos quanto os psicólogos precisam de empenho e persistência, pois, em alguns casos, ocorre uma grande dificuldade em se estabelecer o tratamento mais adequado para cada paciente e sua forma de ansiedade. Todo “bom” ansioso tem pressa, e quer sentir os benefícios do tratamento rapidamente. No entanto, os remédios não são pílulas milagrosas, e precisam de algum tempo (cerca de 6 a 8 semanas) para que atuem da maneira esperada. Muitos pacientes não suportam alguns efeitos colaterais – como dores de cabeça, de estômago, enjoo, ganho de peso – e desistem do tratamento antes de sentirem qualquer benefício – e é comum fazerem essa descontinuação sem a orientação do médico.
Interromper o uso da medicação repentinamente pode causar sintomas de abstinência (síndrome de descontinuação) e ainda aumenta o risco de recaídas da depressão. Da mesma forma que não se deve tomar remédios por conta própria, a retirada dos antidepressivos deve ser feita sempre com acompanhamento de um especialista.
Informações importantes
  • sofrer um ataque de pânico não significa sofrer com TP, afinal, várias condições diárias, como estresse familiar, no trabalho e uso de substâncias como álcool, anfetaminas, cigarro, cafeína, cocaína e maconha podem, esporadicamente, desencadear crises de pânico; no entanto, se os ataques forem frequentes e a pessoa passar a se preocupar permanentemente com a possibilidade de uma nova crise, ou mesmo com as possíveis consequências catastróficas (enfarte cardíaco, derrame cerebral, enlouquecimento etc.), o diagnóstico de TP deverá ser feito;
  • apesar de apresentar uma frequência relativamente baixa, o TP é campeão entre as pessoas que procuram ajuda e tratamento médico; o motivo seria o grande sofrimento e desespero vivenciados durante um ataque de pânico;
  • o TP frequentemente é acompanhado da agorafobia, que é um medo intenso e injustificável de estar em lugares amplos ou com muitas pessoas. Nesses casos, o receio deve-se à dificuldade de terem acesso a qualquer tipo de socorro, caso haja necessidade de um atendimento médico ou qualquer outro tipo de ajuda. A agorafobia leva as pessoas a evitar situações cotidianas diversas, como ficar sozinhas em casa, sair de casa, andar de ônibus, carro, elevador, avião, trem, metrô, ou ainda atravessar pontes, viadutos ou passarelas. Quase sempre as pessoas que sofrem de agorafobia necessitam da presença de pessoas de confiança para enfrentar essas situações;
  • grupos de apoio (mútua ajuda) podem ser uma ótima ajuda no tratamento;
  • com tratamento adequado e o apoio da família e das pessoas próximas, o paciente pode recuperar a autoconfiança e voltar a viver de maneira plena, ser produtivo, e feliz! :)
Fonte: livros Mentes Ansiosas, de Ana Beatriz Barbosa Silva, e Não é Coisa da Sua Cabeça, de Naiara Magalhães e José Alberto de Camargo; experiência pessoal (Karen Terahata).
Imagens: Freeimages.com

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