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Prevenção de quedas em idosos
Os
traumatismos resultantes de quedas da própria altura são um dos
principais fatores que ameaçam a independência dos idosos. Muitas das
vezes as quedas ficam sem a devida atenção dos profissionais de saúde e
mesmo dos familiares e/ou cuidadores. Isto ocorre por uma série de
razões, entre as quais eu destacaria três: [1] No caso de não haver
testemunhas da queda, o idoso simplesmente não menciona o caso a
ninguém, principalmente se não resultar em lesão. [2] Tanto os
cuidadores quanto o paciente erroneamente acreditam que as quedas são
uma parte inevitável do processo de envelhecimento e [3] Muitas das
vezes, durante o tratamento de lesões resultantes de uma queda deixa-se
de investigar adequadamente as causas da queda.
Como é o caso de
muitas síndromes geriátricas, a tendência a quedas está associada ao
somatório de vários fatores de risco. O resultado desta combinação
compromete a capacidade de compensação postural do indivíduo.
Mas calma! Nem tudo está perdido. Um número
considerável de condições que predispõem a quedas em idosos são
modificáveis. Os fisioterapeutas que cuidam de pacientes idosos
precisam rotineiramente inquirir sobre quedas, para avaliar e
identificar os fatores de risco modificáveis. Esta postagem
concentra-se em estratégias para prevenção de quedas em idosos, focado
na literatura científica e sem o menor interesse de ensinar receitas de
bolo.
Prevenção de quedas -
Vários estudos que investigam estratégias para a prevenção de quedas
têm sido conduzidos. Investigou-se o papel dos programas educativos e de
intervenção para melhorar a força ou equilíbrio, a otimização dos
medicamentos, e a própria modificção dos fatores ambientais em casas ou
instituições. Algumas intervenções têm como alvo um único fator de
risco, enquanto outros têm tentado enfrentar múltiplos fatores. Em
geral, as evidências sugerem que as intervenções planejadas sob medida
para os fatores de risco específicos de cada idoso são muito mais
eficazes do que as aplicadas como um pacotão do tipo “receita de bolo
que vale pra todo mundo”.
Intervenções específicas -
Uma revisão sistemática recente da Cochranne, disponibilizada em 2009,
avaliou 111 estudos randomizados de intervenções para reduzir a
incidência de quedas, e envolveu 55.303 pessoas idosas [Gillespie LD,
Robertson MC, Gillespie WJ, Lamb SE, Gates S, Cumming RG, Rowe BH.
Interventions for preventing falls in older people living in the
community. Cochrane Database of Systematic Reviews 2009, Issue 2. Art.
No.: CD007146. DOI: 10.1002/14651858.CD007146.pub2.]. Diversas
intervenções em idosos residentes na comunidade foram capazes de reduzir
a taxa de quedas (número de vezes que um idoso cai ao longo de um
período de tempo), mas a maioria não reduziu o risco de cair (por
exemplo, o número de pessoas que caem), ou seja: As intervenções não
foram capazes de impedir que os idosos sofressem quedas, mas foram
capazes de diminuir o número de quedas ao longo de um período de tempo.
Este é um achado particularmente interessante para quem pretende
conduzir uma pesquisa sobre queda de idosos: Concentre-se na taxa de
quedas ao longo de um período de tempo e não só no número de idosos que
sofreram quedas.
Exercícios –
As intervenções de exercícios pesquisadas podem ser agrupadas em seis
categorias:• Marcha e treino de equilíbrio• Treinamento de força•
Flexibilidade• Movimento (como Tai Chi Chuan ou dança)• Atividade física
geral• Endurance
Em estudos que incorporaram várias categorias de
exercícios, resultaram em redução tanto da taxa de quedas quanto o risco
de queda. A prática de Tai Chi, que contém elementos de treinamento de
força e equilíbrio, foi considerado eficaz na revisão sistemática e em
outros estudos [J Am Geriatr Soc.
2007 Aug;55(8):1185-91.A randomized, controlled trial of tai chi for
the prevention of falls: the Central Sydney tai chi trial], embora possa
ser menos eficaz em adultos mais velhos frágeis de alto risco para
quedas [Logghe,
IH, Zeeuwe, PE, Verhagen, AP, et al. Lack of effect of Tai Chi Chuan
in preventing falls in elderly people living at home: A randomized
clinical trial. J Am Geriatr Soc 2009; 57:70.].
Programas de exercício exclusivamente focado na melhoria da marcha ou
no treino de equilíbrio reduziram a taxa de quedas, mas não o risco de
cair. Intervenções que se centraram em apenas uma das outras cinco
categorias de exercício não reduziu a taxa de quedas [Tinetti, ME, Kumar, C. The patient who falls: "It's always a trade-off". JAMA 2010; 303:258].
Ambiente / tecnologia assistiva -
Em uma meta-análise de seis estudos, as intervenções de segurança
aplicadas na casa não foram capazes de diminuir a taxa de risco geral de
quedas, mas reduziu a frequência e o risco de queda para os indivíduos
com maior risco de cair (exemplo: indivíduos com alterações visuais). A
avaliação e a correção de alterações visuais (ex: catarata)
isoladamente não reduziu o risco ou a taxa de quedas.
Educação - Educar as pessoas idosas sobre a prevenção de quedas como uma intervenção única, não reduzir a taxa e nem o risco de quedas.
Resumão e recomendações
Quedas
em idosos são devidas a fatores extrínsecos interagindo com fatores
intrínsecos relacionados a idade. Múltiplos fatores de risco já foram
identificados, incluindo história de quedas, fraqueza de membros
inferiores, idade, sexo feminino, déficit cognitivo, déficit visual,
problemas de equilíbrio, o uso de drogas psicotrópicas, artrite,
história de acidente vascular cerebral, hipotensão ortostática, tonturas
e anemia.
Me parece razoável dizer que a intervenção para
prevenção de queda em idosos é multimodal e multiprofissional. Como
sugerido pelos estudos publicados, para um cuidado adequado, não adianta
treinar a marcha isoladamente, ou apenas modificar os fatores
ambientais. Faz-se necessário incluir uma intervenção conjunta dos
profissionais médicos (Controle clínico, e ajuste dos medicamentos), dos
fisioterapeutas (exercícios) e dos terapeutas ocupacionais (avaliação e
adaptações ambientais e das AVD´s).
Mesmo quando os programas de prevenção da quedas tenham sido
bem sucedidos em uma pesquisa controlada, a aplicação de intervenções
semelhantes no “mundo real” nem sempre resultou na prevenção de quedas [
Elley,
CR, Robertson, MC, Garrett, S, et al. Effectiveness of a
falls-and-fracture nurse coordinator to reduce falls: a randomized,
controlled trial of at-risk older adults. J Am Geriatr Soc 2008;
56:1383. - - - Hendriks,
MR, Bleijlevens, MH, van Haastregt, JC, et al. Lack of effectiveness
of a multidisciplinary fall-prevention program in elderly people at
risk: a randomized, controlled trial. J Am Geriatr Soc 2008; 56:1390.].
Neste caso, foram identificadas como possíveis barreiras para o
sucesso na implementação das estratégias de prevenção, os seguintes
fatores: [1] Resistência a aderência ao programa de exercícios e
modificação do ambiente proposto. [2] Falta de expertise na
implementação do treino de equilíbrio. [Tinetti, ME. Multifactorial
fall-prevention strategies: time to retreat or advance. J Am Geriatr
Soc 2008; 56:1563.]
Apesar de alguns resultados
contraditórios, é razoável (e prudente) abordar os idosos que têm uma
história de queda através de uma avaliação geriátrica multidimensional,
com intervenções específicas aos fatores de risco identificados. É
importante ressaltar que a maioria dos estudos na comunidade não aborda
especificamente os idosos com comprometimento cognitivo. Assim, a
eficácia das intervenções de prevenção de quedas nesta população
permanence desconhecido.
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