Novos
estudos indicam que dois tratamentos recém-testados para câncer de
próstata metastático — quando a doença já se espalhou para outro órgão —
conseguem aumentar o tempo de vida desses pacientes. Trata-se de duas
substâncias, cada uma investigada por uma equipe de pesquisadores
diferente: a apalutamida e a enzalutamida. A primeira foi capaz de
reduzir em 33% o risco de morte, em relação aos homens que seguiram a
terapia-padrão, e a segunda fez com que 80% dos pacientes estivessem
vivos após três anos de estudo, em comparação com 72% dos que receberam
outros medicamentos.
Em
ambas pesquisas, o remédio foi dado aos voluntários de forma associada à
chamada terapia de privação androgênica (ADT, do inglês androgen deprivation therapy ), que bloqueia a testosterona e, por si só, contribui para desacelerar o avanço do câncer.
Depois
que já gerou metástase, o câncer de próstata não tem cura. Mas, sendo
um tumor sensível a hormônios, pode ter sua evolução freada com esse
tipo de terapia hormonal, já feita há décadas. O desafio que os
cientistas enfrentam agora é descobrir um meio — ou mais de um — de
aumentar o poder dessas terapias, para que sua eficácia chegue a um
número maior de pacientes, em especial os de estágios muito avançados da
doença.
Os
dois estudos foram apresentados na reunião anual da Sociedade Americana
de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), realizada no início de
junho em Chicago, nos EUA. O congresso é o maior do mundo na área.
Após
três anos, 80% dos homens do grupo 1 estavam vivos, em comparação com
72% do grupo 2. Entre os homens que receberam enzalutamida sem
docetaxel, 83% estavam vivos, em comparação com 70% dos que receberam o
quimioterápico. Dos 596 homens com tumores mais graves, 71% dos que
receberam enzalutamida estavam vivos. No grupo que recebeu os outros
remédios, esse índice foi de 64%.
Principal
autor da pesquisa sobre a apalutamida, o oncologista Kim Chi,
diretor-associado de pesquisa clínica no Centro de Próstata de
Vancouver, no Canadá, explicou que fez comparação entre a resposta de
pacientes tratados com ADT combinada com apalutamida, e com ADT sozinha.
Segundo
ele, todos os subgrupos de pacientes com metástase analisados tiveram
aumento de sobrevida livre de progressão da doença e de sobrevida
global, sejam homens com pequeno volume de câncer ou com grande volume.
Participaram da pesquisa mais de mil pacientes, com média de idade de 68
anos.
— Estes resultados apoiam a adição de apalutamida à ADT para esses homens — diz.
A
apalutamida já está disponível no Brasil, mas, ao menos por ora, só é
destinada a pacientes ainda sem metástase. Isso porque estudos
anteriores comprovaram a capacidade que tem de retardar ou impedir a
doença de se espalhar. No entanto, o oncologista brasileiro Paulo Lages,
do Instituto Oncoclínicas de Brasília, acredita que, a partir dos dados
do estudo divulgado em Chicago, a aplicação dessa droga se amplie em
breve:
—
Para quem já tinha metástase, a gente ainda não podia usar essa droga.
Não havia comprovação de que funcionava. Isso, claro, até saírem os
resultados desse estudo.
Já
nos testes com a substância enzalutamida, os 1.125 pacientes
participantes receberam a injeção de ADT — que reduz os níveis de
testosterona — somada à enzalutamida ou a um dentre outros três
medicamentos de mesma classe — bicalutamida, nilutamida e flutamida.
Além disso, 503 deles receberam, em paralelo, o medicamento
quimioterápico docetaxel. O objetivo era comparar as reações desses
grupos aos diferentes tratamentos.
A
conclusão foi que a combinação de ADT com enzalutamida saiu vencedora,
já que 80% desses pacientes estavam vivos três anos depois do início do
tratamento — oito pontos percentuais a mais em relação a todos os que
não tomaram a droga. Além disso, os homens que receberam enzalutamida
sem docetaxel foram os mais propensos a sobreviver do que aqueles que
receberam qualquer outro tratamento no estudo. O trabalho foi publicado
no “The New England Jornal of Medicine”.
Com
esses dados, a combinação terapêutica de ADT mais enzalutamida também
deve se tornar, segundo especialistas, uma das opções-padrão no
tratamento do câncer de próstata avançado.
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