Medicina tradicional
O pajé
O Pajé é um grande sábio da aldeia. Numa aldeia, o pajé é considerado
como o curador, o médico que cuida das doenças que a atinge.
Geralmente, o pajé é sempre um dos mais velhos por causa de seu
conhecimento em todas as áreas: medicinal, adivinhações através do tempo
e na preparação de remédios naturais. É aquela pessoa que reza e cura
as pessoas. É um ancião, que traz consigo desde a nascença, o dom
espiritual e a força dos ancestrais e que no decorrer de sua vida vai
adquirindo experiência e conhecimento.
Atualmente, os anciãos que exercem essa atividade nas aldeias
pesquisadas são o pajé Itambé (Alberto do Espírito Santo Matos), de 78
anos, na aldeia de Coroa Vermelha; a pajé Jaçanã (Maria Dajuda Alves da
Conceição), de 69 anos, na Aldeia Velha; e o pajé Albino Braz, na aldeia
Barra Velha.
Além de benzer e curar as pessoas por meio do poder das rezas e
das plantas, os pajés produzem muitos remédios para curar os males que
atingem a população das aldeias. Algumas ervas medicinais são muito
utilizadas pelo povo Pataxó de modo geral. São elas:
Amesca: uma árvore muito importante para os Pataxó. A
sua
seiva é usada nos rituais sagrados do povo Pataxó em forma de incenso,
para espantar os maus espíritos e fortalecer os espíritos dos
guerreiros. Também tem importante uso medicinal: a seiva serve para
combater dores de cabeça, dor de dente, sinusite, dor de barriga e
outros. Seu aroma é bastante agradável.
Babosa:a folha da babosa batida no liquidificador
junto com
leite é usada para combater o câncer. É também eficaz no combate à
diabete, fazendo o comprimido do seu líquido com a farinha de trigo.
Santa Maria:o sumo de sua folha serve para combater
micoses e
impigem, passando no local. O banho com suas folhas serve para combater a
sinusite e a goma de suas folhas serve para curar infecções na pele.
Cardo Santo:a folha batida no liquidificador junto
com leite é
anti-inflamatório; o chá com as folhas serve para dores no corpo; o sumo
da folha junto com óleo de rícino serve para combater a pneumonia.
Tioiô:o banho com suas folhas serve para o fortalecimento
espiritual, “olho gordo” e combate à sinusite; o chá das suas folhas serve para combater verme.
Confrei: o chá com as suas folhas é
anti-inflamatório; o sumo
junto com leite serve para tirar pustema; o chá junto com
coentro-maranhão é anti-inflamatório fortalecido, serve para curar
inflamação de garganta.
Hortelã:o chá com as suas folhas serve para combater febre e
gripe; as suas folhas amassadas espantam ratos de casa, colocando no local onde eles costumam aparecer.
Boldo:o chá com as suas folhas serve para congestão e dor no
estômago.
Coentro-Maranhão:o chá com as suas folhas é estimulante sexual; o sumo da raiz pisada serve para escorbuto.
Chapéu-de-couro: o chá com as suas folhas serve para
combater dores no corpo; a raiz e as folhas colocadas na cachaça servem para reumatismo.
Cana-de-macaco: o sumo de seu caule e olho serve para
combater hemorragia, dor de estômago e problema nos rins; o chá das
folhas serve para dores no corpo.
Artimijo:a massagem com as suas folhas aquecidas serve para
acelerar o processo de parto.
Mastruz:o chá e o sumo de suas folhas é
anti-inflamatório e
também serve para combater dores e febre. Também combate vermes. As suas
folhas pisadas e amarradas num local servem para curar inchaços e dores
nos ossos; o sumo do mastruz com leite serve para retirar pustema e
combater pneumonia.
Vale destacar que o conhecimento que os pajés possuem sobre
a flora local e a manipulação das ervas é digno de reconhecimento e que
não consiste numa forma paliativa ou atrasada de lidar com problemas de
saúde. Ele resulta de anos de observação e prática e depende da
transmissão de conhecimentos por meio da oralidade.
A parteira
Na comunidade, normalmente a parteira é uma anciã que tem muitos
conhecimentos tradicionais, em especial, das plantas e ervas. Na
hora de realizar um parto, ela conhece as técnicas de acompanhamento e
preparação dessas ervas medicinais para que seu trabalho ocorra conforme
o planejado.
Uma mulher Pataxó torna-se parteira vivenciando, praticando e,
geralmente, seguindo uma tradição familiar. O trabalho da parteira é um
trabalho árduo e que exige muita dedicação: ela está presente não só no
momento do parto, mas sobretudo nas horas que o antecedem, preparando os
banhos com artimijo, mentrasto, folha de jenipapo, tioiô e outras ervas
que auxiliam o trabalho.
Usualmente, ela começa a participar dos partos por volta dos 20-25
anos de idade, acompanhando uma parteira mais experiente. É a partir
daí que começa a pôr em prática e exercer a atividade, ganhando o
respeito, primeiramente, dos familiares e, em seguida, da comunidade.
As anciãs que atualmente desempenham essa atividade nas
aldeias são: em Barra Velha, Dona Roxa, Bia, Dona Maria Coruja, entre
outras; em Coroa Vermelha, Dona Rosa (Rosa Neves do Espírito Santo) de
67 anos, parteira há 47 anos; e em Aldeia Velha, a Pajé Jaçanã.
Assim como no caso do trabalho desempenhado pelos pajés, cabe
destacar que o trabalho das parteiras não é um paliativo das comunidades
indígenas para suprir a carência de uma rede médico-hospitalar. Pelo
contrário, elas são alternativas eficientes e qualificadas a essa rede
que, de modo geral, atende às necessidades da população indígena tanto
quanto às a não indígena, operando por meios não invasivos e não
farmacológicos, utilizando massagens e técnicas de relaxamento.
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